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A Dor por Trás da Melodia: 4 Verdades Chocantes que a Música Clássica Esconde


Imagine a cena: um músico de sopro em uma grande orquestra, o brilho do metal sob as luzes do palco, o som puro e potente que preenche a sala de concertos. Vemos a habilidade, a dedicação e a beleza de uma performance impecável, fruto de anos de estudo e prática incansável.


Mas qual é o custo físico oculto para alcançar essa perfeição? Por trás da cortina de harmonia e precisão, uma luta silenciosa e surpreendentemente comum está sendo travada. Este post revela as descobertas mais impactantes de um estudo com 585 músicos de sopro profissionais, expondo uma realidade que poucos fora do palco conhecem.


O problema é muito maior do que se imagina


Prepare-se para um dado alarmante: uma maioria chocante de 59% dos músicos de sopro profissionais relatou sofrer de "distúrbios de embocadura". Além disso, 30% reportaram sentir "fadiga de embocadura", uma condição de cansaço extremo nos músculos faciais essenciais para tocar. Esses "distúrbios" não são apenas um desconforto vago; são falhas técnicas concretas que minam a performance, como "bloqueios no ataque" das notas (relatados por 36,7% dos trompistas), "problemas no registro agudo" (47,4% dos trompetistas) e "notas rachadas" (36,4% dos trompetistas).


É impactante pensar que mais da metade de todos os artistas nesta área enfrenta essas dificuldades como parte de sua rotina profissional.

O estudo também revelou que os instrumentistas de registro mais agudo são os mais vulneráveis. Trompetistas e trompistas relataram problemas com a maior frequência (64,3% e 64,7%, respectivamente).


Tentar "consertar" sua técnica pode ser perigoso


De forma contraintuitiva, a pesquisa descobriu que músicos que tentaram ativamente alterar sua técnica de embocadura, ou respiração para corrigir problemas, apresentaram uma frequência significativamente maior de cãibras, um sintoma chave da distonia focal, um distúrbio neurológico do movimento que pode encerrar carreiras.


Os números são claros: uma mudança prévia na técnica de embocadura foi associada a uma frequência 2,37 vezes maior de cãibras. Da mesma forma, uma alteração na técnica de respiração esteve ligada a uma frequência 2,16 vezes maior do mesmo sintoma.

Músicos que alteraram sua técnica de embocadura, apresentaram um risco 2,37 vezes maior de desenvolver cãibras, um sintoma potencialmente incapacitante.

Essa descoberta expõe uma ironia cruel: a tentativa de melhorar e aperfeiçoar a técnica, uma busca constante na vida de um músico, pode, na verdade, ser um fator de risco para um problema muito mais grave e debilitante.


Musicistas mulheres enfrentam um risco quase duas vezes maior para um sintoma grave


O estudo revelou uma disparidade de gênero notável e inesperada. Musicistas mulheres apresentaram uma frequência quase duas vezes maior (uma razão de prevalência de 1,98) de "cãibras de embocadura", em comparação com seus colegas homens.


Este achado é particularmente surpreendente porque contrasta com a prevalência geral da distonia focal (o distúrbio neurológico relacionado), que é tipicamente mais diagnosticada em homens. Os dados de apoio reforçam essa diferença: as mulheres também relataram uma taxa mais alta de afastamento por doença devido a distúrbios de embocadura, com 15% delas precisando se ausentar do trabalho contra 9,1% dos homens. Para agravar essa disparidade, evidências emergentes sugerem que o caminho para a recuperação também pode ser mais difícil para elas. O estudo menciona que "descobertas recentes indicam um pior resultado de tratamento para mulheres em comparação com homens que sofrem de distonia de embocadura".


Os problemas de embocadura não são um obstáculo passageiro, mas uma ameaça à carreira


As consequências desses distúrbios vão muito além do desconforto temporário. O estudo mostra que esses problemas, levaram a um afastamento por doença em 16% dos músicos que os relataram, um número significativo em uma profissão altamente competitiva.


No entanto, a estatística mais alarmante é a duração desses problemas. A média de tempo de uma "crise de embocadura" foi de 41,3 meses. Isso representa quase três anos e meio de luta contínua com a ferramenta mais fundamental de um músico de sopro.

No entanto, o estudo oferece uma nuance crucial que afasta o sensacionalismo: embora a luta seja longa, não é necessariamente uma sentença de fim de carreira. Na verdade, 67,3% dos músicos que passaram por uma crise de embocadura afirmaram tê-la superado, mostrando que a recuperação, embora árdua, é possível para a maioria.


Repensando a Saúde do Músico


As descobertas do estudo não pintam um quadro de incidentes isolados, mas sim de uma crise sistêmica. Revela-se um cenário onde a própria tentativa de aprimorar a arte pode desencadear uma condição debilitante, levando a uma luta profissional que dura anos e que afeta desproporcionalmente as musicistas mulheres, que ainda podem enfrentar piores prognósticos de tratamento.


Fica clara a necessidade urgente de mais atenção, pesquisa e, acima de tudo, estratégias preventivas eficazes na formação e no acompanhamento da carreira desses artistas.

Isso nos deixa com uma reflexão final: até que ponto a busca pela perfeição artística justifica um custo físico tão alto, e o que pode ser feito para proteger os artistas que nos trazem tanta beleza?


Fonte: STEINMETZ, A.; STANG, A.; KORNHUBER, M.; RÖLLINGHOFF, M.; DELANK, K. S.; ALTENMÜLLER, E. From embouchure problems to embouchure dystonia? A survey of self-reported embouchure disorders in 585 professional orchestra brass players. International Archives of Occupational and Environmental Health, v. 87, n. 7, p. 783–792, 2014. DOI: https://doi.org/10.1007/s00420-013-0923-4. PMID: 24337629.


Liliana Mores

Cirurgiã-Dentista CRO/SC15297

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Liliana Mores - Cirurgiã-Dentista CRO/SC15297 - Brasil

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