Bruxismo

 Se você está aqui, provavelmente tem curiosidade sobre o que é, de fato, essa condição tão comentada. Fico feliz em dizer que você chegou em um ótimo momento. Nos últimos anos, um consenso de especialistas internacionais nos ajudou a entender o bruxismo de uma forma completamente nova, mais clara e precisa. Vamos juntos desvendar esses conceitos fundamentais.

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1. O Que é Bruxismo? A Definição Fundamental

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Para começar, vamos alinhar nosso entendimento com a definição mais atual e unificada. Não pense no bruxismo como uma única ação, mas como um termo que abrange diferentes atividades dos músculos da mandíbula.

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A definição geral, estabelecida por especialistas, é a seguinte:

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Bruxismo é uma atividade repetitiva dos músculos da mandíbula, caracterizada por apertar ou ranger os dentes e/ou por contrair ou empurrar a mandíbula.

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Para que essa definição fique ainda mais clara, vamos detalhar os quatro tipos de atividade muscular que ela descreve:

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• Apertamento (Clenching): É o ato de manter um contato sustentado e estático entre os dentes, como se estivesse mordendo algo com força contínua.

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• Ranger (Grinding): Refere-se a contatos dinâmicos entre os dentes, ou seja, um movimento de deslizar os dentes uns contra os outros. Esse movimento pode ou não produzir som.

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• Contrair/Firmar (Bracing): É uma atividade equivalente ao apertamento (uma contração sustentada dos músculos), mas realizada sem que os dentes se toquem. Imagine tensionar os músculos da mandíbula para uma fotografia ou ao levantar algo pesado, mantendo os lábios juntos mas os dentes separados.

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• Empurrar (Thrusting): É uma atividade equivalente ao ranger (um movimento dinâmico da mandíbula), mas também realizada sem contato entre os dentes. Pense em um movimento de projetar a mandíbula para a frente ou para os lados com força, mas sem raspar os dentes.

 

Agora que conhecemos a definição geral, vamos entender como essa atividade se manifesta em diferentes momentos do nosso dia.

 

2. Os Dois Tipos de Bruxismo: do Sono e em Vigília

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O bruxismo não acontece da mesma forma o tempo todo. Ele possui duas "manifestações circadianas", ou seja, ocorre de maneiras distintas dependendo se estamos dormindo, isto é, durante o sono e enquanto estamos acordados (vigília).

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Abaixo,  compare as características essenciais do Bruxismo do Sono e do Bruxismo de Vigília:

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Bruxismo do Sono: Características

Definição: Uma atividade dos músculos mastigatórios durante o sono, caracterizada como rítmica (fásica) ou não-rítmica (tônica), e que não é um distúrbio do movimento ou do sono.

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Tipo de atividade muscular: A atividade pode ser rítmica (fásica), ocorrendo em pulsos curtos e repetidos (ex: ranger), ou não-rítmica (tônica), como uma contração muscular longa e contínua (ex: apertamento sustentado).

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Bruxismo em Vigília: Características

Definição: Uma atividade dos músculos mastigatórios durante a vigília, caracterizada por contato dentário repetitivo ou sustentado e/ou por contrair ou empurrar a mandíbula, e que não é um distúrbio do movimento.

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Tipo de atividade muscular: A atividade se manifesta como contato dentário repetitivo ou sustentado e/ou contrair ou empurrar a mandíbula (sem contato dentário).

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Entender essa divisão é crucial, pois nos leva à mudança conceitual mais importante sobre o bruxismo nos últimos anos.

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3. Por Que o Bruxismo é um Comportamento, e Não uma Doença?

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Esta é a ideia mais importante que você deve reter: segundo o consenso de especialistas, o bruxismo não é considerado uma doença ou um distúrbio. Em vez disso, ele é classificado como um comportamento motor. Essa mudança de perspectiva é fundamental. Um comportamento, por si só, não é inerentemente "bom" ou "ruim". Ele pode ter diferentes papéis, dependendo do indivíduo e do contexto. O bruxismo pode ser:

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1. Um Fator de Risco Quando está associado a consequências negativas. Por exemplo, pode contribuir para o surgimento de dor nos músculos da mandíbula, dores de cabeça ou desgaste excessivo dos dentes.

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2. Um Fator Protetor Em alguns casos, o bruxismo pode ter um efeito benéfico. O exemplo mais notável é em pessoas com apneia obstrutiva do sono, onde a atividade muscular da mandíbula pode ajudar a manter as vias aéreas abertas, evitando seu colapso. Além disso, pode ajudar a aumentar a salivação em casos de refluxo gastroesofágico e até mesmo exercer um efeito positivo na função cognitiva.

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3. Um Fator Neutro Para muitas pessoas, o bruxismo pode ser simplesmente uma atividade que ocorre sem causar consequências positivas ou negativas relevantes para a saúde.

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Justamente por ser um comportamento, e não uma doença, o bruxismo também não pode ser considerado uma "comorbidade" (uma condição que existe junto com outra doença). Essa distinção muda completamente a forma como os profissionais de saúde devem abordar o tema.

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4. Foco na Avaliação, Não no Diagnóstico

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Se o bruxismo não é uma doença, a consequência lógica é que os profissionais de saúde não o "diagnosticam". A palavra "diagnóstico" se aplica a doenças e distúrbios. O termo correto é que os profissionais avaliam o bruxismo. O objetivo dessa avaliação é duplo:

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• Identificar se o comportamento está presente.

• Determinar se existem consequências (positivas ou negativas) associadas a ele.

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O manejo clínico (ou seja, a recomendação de algum tipo de tratamento ou intervenção) só se torna necessário quando as consequências negativas estão presentes. Além disso, essa intervenção deve ser planejada com cuidado para não comprometer qualquer possível efeito positivo que o comportamento possa estar exercendo.

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5. Princípios para Tomada de Decisão Clínica: Quando Manejar ou Tratar

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5.1 Fundamentos da Decisão Clínica

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A decisão clínica não deve ser uma resposta automática à presença de bruxismo, mas sim uma consideração cuidadosa de suas consequências e associações no contexto da saúde geral do paciente. 

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5.2 Diferenciação entre Manejo e Tratamento

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É fundamental distinguir categoricamente entre manejar as consequências do bruxismo e tratar um transtorno subjacente do qual o bruxismo pode ser um sinal.

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• Manejo das Consequências: O manejo é indicado quando há consequências negativas do bruxismo, como dor orofacial, desgaste dentário excessivo ou falha de restaurações. A condição crucial para a recomendação do manejo é que ele não comprometa quaisquer efeitos positivos potenciais do comportamento. Por exemplo, se o bruxismo tiver uma função protetora, uma intervenção que o elimine completamente pode ser prejudicial.

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• Tratamento de um Transtorno Subjacente: O tratamento é indicado quando o bruxismo é um sinal de um transtorno médico, como a apneia obstrutiva do sono. Nesses casos, os benefícios do tratamento do transtorno subjacente geralmente superam os riscos de comprometer qualquer efeito positivo do bruxismo.

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5.3 Abordagem Individualizada

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É imperativo que a decisão clínica sobre manejo ou tratamento seja fundamentada em uma avaliação rigorosamente individualizada. Não existe uma abordagem única para todos; o clínico deve ponderar as consequências, o contexto de saúde e as necessidades específicas de cada paciente antes de recomendar uma intervenção.

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Fonte: VERHOEFF, M. C. et al. Updating the bruxism definitions: report of an international consensus meeting. Journal of Oral Rehabilitation, v. 52, n. 9, p. 1335–1342, set. 2025.