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Saúde dos Instrumentistas de Sopro

Tocar um instrumento musical, independentemente do tipo, requer habilidades e técnicas motoras específicas e, para atingir um grau de precisão técnica e reprodução de som de alta qualidade, requer prática intensiva e constante.



Quando o instrumento musical é de sopro, essas habilidades motoras devem ser coordenadas com o a regulação do ar expirado, além de suportar o peso do instrumento. Quando unimos todas essas variáveis, entendemos porquê músicos profissionais estão sujeitos à inúmeras lesões musculoesqueléticas em consequência da prática intensiva e prolongada dos treinos e da prática de tocar.


Estas lesões, caso não sejam administradas em tempo hábil, podem acarretar futuramente riscos à saúde, podendo inclusive, determinar a continuação ou não a carreira musical.

Cada instrumento musical exige um manuseio específico e uma postura única dos músicos, além dos movimentos repetitivos e os padrões dos movimentos não fisiológicos, as longas horas de treinos intensos diários, são fatores de risco que influenciam no desenvolvimento de distúrbios muscoloesqueléticos relacionados ao tocar. Esses fatores de risco são semelhantes aos atletas de alta performance, e as lesões inicialmente, podem aparecer como tensão, muscular excessiva, irritação nos tendões, tensão e fadiga muscular.


Em pesquisas anteriores, verificou-se que 39% dos instrumentistas de sopro de uma orquestra sinfônica apresentam sintomas de dor pela sobrecarga relacionada ao tocar; 61% dos instrumentistas de sopro de metal sofrem com lesões musculares; 70% dos trombonistas, 62% trompistas e 53% dos trompetistas são afetados por essas lesões musculares relacionadas ao tocar o instrumento.


Ainda é preciso considerar o peso do instrumento. Alguns chegam a pesar até 11 kg (bem mais pesados que os instrumentos de sopro), e dependendo da força de suporte para o uso do instrumento e da postura específica para tocar o instrumento, podem causar a lesões em áreas específicas do corpo. As regiões mais comuns de dores dos instrumentistas de sopro são a região lombar, área dos ombros-braço, mão e no pescoço.


Nos instrumentos de sopro, o som musical é produzido através da tensão e vibração dos lábios do instrumentista; o posicionamento especial e a tensão dos lábios, língua, músculos faciais e mandíbula (que formam a Embocadura), são necessários para direcionar o ar expirado através do bocal do instrumento.


Quando isso ocorre, há uma enorme pressão nas vias aéreas gerada pelos músculos abdominais, juntamente com os movimentos coordenados da língua e lábios, para produzirem sons diferentes. Essa enorme expulsão de ar contra os lábios levemente fechados, gera altas cargas de pressão intrabucal e intratorácica, semelhantes a uma manobra de Valsava.


Essa pressão sistêmica estressa o sistema cardíaca e o sistema estomatognático. Isto fica claro em pesquisas em que os instrumentistas de sopro relatam queixas de dores orofaciais, relacionadas ao tocar, nos dentes, mandíbula e disseminação da dor para estruturas vizinhas. Essa sobrecarga, direta e indiretamente na ATM, pode desenvolver dor, disfunções na região facial e comportamentos como o bruxismo.


Ao longo prazo, alguns relatam desconfortos, incluindo perda de controle labial, lesões na boca e dores na ATM. Quando há sobrecarga do sistema estomatognático, clinicamente pode-se observar lesões nos tecidos moles, com dor orofacial, edema labial e descoloração local, indicando sangramento subcutâneo.

Treino intensivo e fases de recuperação insuficientes podem causar fadiga muscular severa, conhecida como Fadiga da Embocadura. Esses distúrbios de movimento, específicos de músicos de sopro, causam movimentos involuntários relacionados ao tocar, perda do controle muscular facial durante a embocadura, deterioração na qualidade do som e problemas da ATM.


Fonte: Noëla Herrmann, Melissa Just, Christoff Zalpour, Dirk Möller. Musculoskeletal and psychological assessments used in quantitatively based studies about musicians’ health in brass players: A systematic literature review. Journal of Bodywork and Movement Therapies, Volume 28, 2021, Pages 376-390.


Liliana Mores - Cirurgiã-Dentista CRO/SC 15297

Odontologia na Medicina do Sono

DTM & Dores Orofaciais, Bruxismos

Odontologia para Músicos

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