Muitos músicos e colegas Dentistas me perguntam se tocar um instrumento de sopro pode movimentar os dentes, causando uma má oclusão. Esta é uma pergunta muito difícil de responder, pois há muitas variáveis que precisamos considerar.
Entretanto, hoje vamos falar sobre o impacto do instrumento de sopro sobre a saúde das crianças. Afinal, crianças podem tocar um instrumento de sopro? Um instrumento de sopro pode causar uma deformação da maxila ou uma má oclusão dentária, pois estão em fase de crescimento?
Essa é uma preocupação constante da maioria dos professores de música e dos pais.
Crianças e pré-adolescentes, quando ainda estão na fase da dentição decídua (dentes de leite) ou na mista (trocando os dentes de leite pelos permanentes), tem o osso alveolar (osso onde os dentes estão inseridos) e a maxila mais flexíveis e sujeitos aos impactos de algum tipo de hábito. Todos sabemos que chupar o dedo, por exemplo, irá deformar a maxila e causará uma má oclusão dentária e esquelética. O mesmo ocorrerá se a criança for uma respirador bucal, por isso chupar o dedo ou respirar pela boca são hábitos nocivos para a oclusão.
Esta também é a fase em que usamos aparelhos ortopédicos para a correção de algumas discrepâncias (por exemplo: a maxila não cresceu tanto quanto deveria para acompanhar a mandíbula etc). Os ossos são flexíveis e, portanto, sujeitos a algum tipo de deformação, seja negativa pelo impacto de algum hábito nocivo, ou positivo como o uso de aparelhos ortopédicos para a correção esquelética.
Os dentes que estão erupcionando (nascendo) lá pelos 6 a 8 anos de idade são os incisivos e são eles que estarão em contato com os instrumentos de sopro. Com a erupção dos incisivos centrais e laterais nessa fase, em média, ¾ do comprimento final da raiz estão estabelecidos e a formação da raiz é completada aos 8,6 a 9,8 anos de idade para os incisivos centrais e 9,6 a 10,8 anos para os incisivos laterais. É impossível excluir a possibilidade de que os dentes possam ser mais suscetíveis à movimentação dentária antes dos 8 anos de idade como resultado da força exercida regularmente pela boquilha de um instrumento musical. Os dentes nesta fase têm raízes imaturas e o osso alveolar é mais flexível. Também é incerto se essa pressão sustentada em um dente com raízes imaturas também pode levar à dilaceração da raiz.
Apesar de termos esse conhecimento sobre a anatomia e fases da erupção dos dentes, não há estudos que indiquem de fato se tocar um instrumento irá afetar a oclusão de crianças, entretanto, o fato de não terem sido realizados estudos, não quer dizer que não devemos ser diligentes quando se trata da saúde bucal dos pequenos.
Por outro lado, sabemos que crianças que têm contato com instrumentos musicais desde cedo, desenvolvem capacidades cognitivas como concentração, pensamento lógico e criatividade. Há muitos benefícios para a saúde mental e psicológica, então devem ser estimuladas desde cedo a entrar em contato com a música e instrumentos musicais.
Mas, e a questão da oclusão?
Crianças estão experimentando. Deixá-las livres para escolher o seu instrumento, deixa-las experimentar sem cobranças ou exigências. Tocar um instrumento deverá ser divertido como uma brincadeira. Não exigir que ela treine como um aluno ou musicista jovem ou adulto.
Se ela escolher um instrumento de sopro, deverá brincar e exercitar poucos minutos por dia. Aos pais, é aconselhável levar os pequenos a uma consulta ao odontopediatra ou ortodontista para consulta e avaliação da oclusão, fazer exames iniciais para o acompanhamento posterior da erupção adequada dos dentes e da oclusão. Dúvidas, CONSULTE SEMPRE UM PROFISSIONAL.
Liliana Mores – CRO/SC15297
Odontologia para Músicos
Ortodontista
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